9 de março de 2012

Rosa


Rosa

Qual rosa molhada de luz
A ladeira de denso mato
É bruma que queda
Da cachoeira
A água resvala ao chão
É bruma!
Toca as pedras
Par de pernas magras
Sob as pedras, nuas
Concretas
Pernas
São concretas tal o tronco
Nuvens de nebulosas folhas
Acima do tronco há
O que acima das nuvens
Que pernas?
Tal suas pernas de nua pele
Que roçam a pedra
Coberta de bruma
Bruma é água que resvala da queda
A queda é d’água
A pedra é d’água
Suas pernas são d’água
E n’água se dissolvem
Qual rosa que iluminou o sonho meu.

Ribeirão ribeirão
O espelho da beira
O rosa permeia
O sonho das copas
O caldo do leito
Da ribeira
É verde azul castanho
Mistura. Mistura.
A preta mistura a canjica
Dá caldo de cana, dá
O gelo tilinta
A espuma é branca
A mosca preta no meio da bola
Olho
Vejo o olho no ribeirão
A água é fria
Tímido toque do pé
E logo o todo corpo
O ribeirão come o corpo
Os olhos comem
Devoram
Observar
Derramaram caldo de cana
No leito do ribeirão, sabia?
Sabia que aqui tem sabiá?

Do breu de um instante
É um lugar aqui
Inverno no outono
Nesse lugar de breu de um instante
Uma flor nasceu
Mas foi em um lugar diferente
O sol róseo alumia
A flor que nasceu
Tem duas pétalas
A chuva molhou
Duas pétalas úmidas
E rosadas
Qual as copas dos sonhos
Que flutuam o céu
Das árvores rosas
Desse abril tão estranho
São duas pétalas rosadas
Meladas de batom
Perto do ribeirão
Dos dois ribeirões
Em uma face de alva tez
Enevoada pelo sonho meu
Que faz de flor
Os lábios rosa

A grama dourada
Dourado amanhecer
A grama é longa
Trigo é
Se deita ao longo
Do campo de alva pele
Escorre o trigo
E cobre duas orelhas
Se enrola toda
É tímido
O trigo cabeludo
Estende a mão
Que o trigo se desfaz
Vira grão que o vento leva
Para a copa dos sonhos
É abril
O ribeirão é frio demais
Arrancaram a rosa e deram
Para outra Maria
O rosa que alumia
Cartão postal do sol
Nessa terra rosa de bruma e nébula
Tão estranho mês de abril
E a alva tez germinando essa mata
O rosa desceu a ladeira!
Jogaram caldo de cana na minha boca
Mas foi só um sonho.

Deeper in the dream
Não há cabeleiras de trigo
É o céu que cobre
O coco cabeçudo
É o céu e seu azul
Escuro
Quiçá o oceano
Ela tem cabelo azul
Quiçá violeta
A luz que o sol é violeta irradia
E daí?
Não é cor
Cabeleira não é cor
É tato, puro cheiro
O que importa é o braço
Eu penso que é o braço
Se for liso é braço bom
Seja alvo ou preto
O braço feito da espuma
Da queda d’água
O braço de espuma é
Mas nas pedras da cachoeira
Mas nas pernas da mocinha...
É abril, minha gente
Abra as janelas da rua
As pernas vivem nuas
Em cima da pedra a cabeleira toca a água
É longo ela, parece a copa dos sonhos
Das árvores que flutuam nas nuvens
Nas nébulas divinas que regem abril
É só tocar que se desfaz
Em abril tudo é água
E na água se esvai

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