15 de abril de 2013

Dia 5

   Eu não sou alemão, ainda que a Constituição o negue; tenho, sim, 1/4 da alemanha no sangue e no nome, mas não o sou. Como poderia? De lá, nada conheço, a não ser resquícios do idioma obtidos tardiamente. De lá, ninguém conheço, senão as pessoas antigas e vazias que vejo nas fotos. Sim, muito já sonhei com as fotos, e por isso tenho mérito; porém, sinto que não basta sonhar para ser chamado alemão.

   Do meu avô germânico, não herdei uma palavra. Mudo na velhice, não o recordo jovem. Herdei apenas o seu silêncio, deitado na cama assistindo TV junto a mim, ou na rede, jornal na mão e cachorro no colo, tranquilo. Mas o silêncio que herdei não foi o silêncio alemão. Talvez nem tenha sido o silêncio de um religioso, visto que ele o era e, em tempos antigos, exercia votos de Padre. Herdei de meu avô, de quem tão pouco lembro, o silêncio dos homens.

   Não sou, por isso, alemão. Sou, por isso, talvez, poeta, e isso me basta.

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