7 de novembro de 2013

Ruínas


Ruínas


   Bem cedo, e nós contornávamos a colina em direção ao mar. O sol brilhava um pouco. E você me perguntaria em descrença: “naquele tempo, o que há de amor que se possa querer traduzir”? Quase

   Nada. Da infância, pouco sei dos romances, estes que me vieram somente na fase adulta, sedentos, ardilosos... Quase nada.

   Por outro lado, atrás da colina havia um grande oceano abaulando o campo. E nesse campo sobreviveram colunas de pedra, retalhos de muros, de um antigo sobrado que o tempo ou o rancor destruiu. Bem cedo, e nós contornávamos a colina em direção àquelas ruinas, o sol que transluzia em um céu sem nuvens. E você me

  Perguntaria:

   “Edu, vamos brincar de que hoje”?

   E eu: genitor de monarquias, a tecer longas odes aos bosques e às fadas. E fazer de você companheira fiel das minhas aventuras. E por ter os joelhos cobertos de lama, e por ter arranhado as bochechas nos galhos da pitangueira, e por me olhar de maneira tão sincera, esquecer

    Que você era, antes de uma exímia espadachim, um romance.

    Investir uma quantidade estúpida de domingos em uma vida imaginária. Pensando: o que é sério nunca haverá de penetrar

   Estes momentos de insanidade. Mas o que é ser sério, Elga? Seu nome lembra a mim coisas estúpidas, como deitar-se na grama de um sobrado abandonado e encarar um azul estúpido ao seu lado. Como se pode amar algo tão estúpido? Sobretudo, como

   Entendê-la?

   Pergunto-me, ainda: porque amamos sempre o que está distante? Uma menina, talvez, que sequer exista?

   Bem cedo, acompanhar-te em direção ao sobrado. Brincar de uma porção de coisas. E depois tomar banho de mar.

   Porque o amor é responsabilidade demais. Porque é parnasiano demais, porque é sério demais, porque é tenso demais, eu sangro sob seu vício. Muito mais fácil seria amar o que é fácil, ou o que nos agrada – como daquela vez em que brincamos de dom Quixote. Mas você bem o sabe

   Que isso é estúpido. Ah, Elga, por que

   Pensamos tanto em coisas sérias?


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