8 de novembro de 2011

A morte – Um eufemismo para o fim.


Foi só a chuva... E só.

Não há luz no recinto
Apenas fragmentos de um sol acinzentado
Que inexorável, atravessa a chuva e a podridão do céu.
- Um sol pálido e moribundo
Ainda assim, um sol.

A janela: Quase uma broca na parede
Açoitada pela chuva, ignorada pelo mundo
Enforcada pela absoluta lei existencialista, que diz:
“O que por ninguém é observado,
Para ninguém existe”, e só.

A janela, fustigada pela tempestade,
Um buraco vivendo na amargura
De não existir... Sádico!
Cruel destino do inanimado...
O sol moribundo atravessando-a, e só.
Sua lasciva, única esmola por não estar viva.

Há um menino sentado no chão
O único ser no mundo.
A biblioteca calou-se na presença de tal
Milagrosa solidão...

“O tempo deve parar”

E assim ele o fez
Pura e somente em prol do prazer do
Único ser no mundo.

Um mundo escravo, que se existe
Assim só o faz, pois há o menino.
O absoluto observador.
A condição da clausula de existência...
Um único álibi.

Uma moça abraça-lhe as costas.
Seus joelhos vermelhos roçam o chão
Seu frágil busto, volumoso em dois montes de carne
Tateiam com delicadeza as costas do rapaz.
Os cabelos se misturam, indiscerníveis
Pois cor alguma há na biblioteca iluminada pelo sol cinza
De uma tempestade castanha.

E perfeição toma formato
O milagre está completo,
Pois não existiria o homem sem a mulher,
Esta é a clausula de existência de ambos.
O menino que, observando, faz o mundo existir...
Mas quem dele faz matéria tangível?
Quem prova aquele que prova o mundo?

A menina. Suas roupas suadas.
Sua respiração alquebrada.
Os botões da camisa vão soltando-se
Um
Por
Um
Lentamente...
Assim é também a mente.
O sentido, desabotoando-se,
Eloqüente,
Da razão.

Agora o busto está nu
E a saia xadrez escorre pelas curvas de uma pele ardente.
O menino, que observando, prova a existência da menina...
E a menina, que também assim o faz.

O menino que prova a existência...
- O sentido se perdendo...
O menino que prova a menina
A menina que prova do menino
Uma simples preposição que muda todo o sentido:
O menino
Que prova
Da menina
Os seios
Em suas mãos
Divinos...

O livro, desconfortável, amaldiçoa não poder mover-se.
Ele foi jogado longe, muito longe, pelos dois amantes.
O livro meteu-se debaixo da estante.

Se para que se exista deva-se ser observado,
O livro não mais existe...
Ele está debaixo da estante
Desconfortável,
Só.
Ninguém nunca mais o observará.
O livro, profundamente desgostado
Apodrece na eternidade da sua não-existência.

O livro é vazio.
Tudo que não existe, é vazio.
Mas o vazio é coisa impossível...
Pois se é vazio, não é nada
E sendo nada, já se é alguma coisa.
O livro existe, pois ao deixar de existir, torna-se possibilidade.
Se algum dia, algum observador
Limpar a estante desejar,
O livro será achado, e voltará a ser real.
Sim, certamente um dia o livro escapará
Desta terrível câimbra, desconfortável, do não existir...
Como a janela, açoitada pela chuva e pelo vento
Agora existe, pois estão os amantes
Abraçados, nus de corpo e alma,
Fitando-a.

O mundo é completo.
O mundo é infinito.
O rapaz acaricia os cabelos da menina,
Seus dedos penetram nas raízes e o percorrem até as pontas.
Sim, aqueles cabelos reais, tangíveis...
O mundo é tão infinito!
Por mais profunda que seja a visão, nunca tem fim os cabelos dela...
Começa-se pela macro-visão, até as células:
Moléculas, átomos, prótons...
Tudo se segue num looping eterno.

Porém, o infinito, assim como o nada, é impossível...
Se for infinito, tudo é.
E se tudo é, é tudo, inclusive o nada.
Se for nada, não é infinito,
E sendo assim, são aqueles sedosos cabelos
Tão lisos, tão castanhos!
Feitos do mesmo vazio de que se faz o vento.

O mundo é infinito... Logo, o mundo não existe.
É uma realidade impossível.
O universo resume-se a um vazio tão sublime
Que é nada, sem ser coisa alguma.
A matéria é inexistente.
A mente, inexata.
Os sentimentos, infundados,
E o espírito não se pode provar.

Mas o fato é que as roupas espalhadas pelo chão da biblioteca,
Sim, elas estão lá.
Contorcidas pela força voluptuosa
Do sexo. – Elas existem.
Mesmo que o mundo não passe de uma ilusão...
Ainda assim, elas estão lá...

Os garotos se vestem.
As roupas estão úmidas
A saia, e a blusa folgada.
Os botões penetram em seus respectivos feches.

Sim, o mundo está lá.
Pode ser uma ilusão, mas desde que haja copulação está tudo bem.
O coito, ah sim! É a fatalidade mais absoluta da vida!
Está acima da razão, acima do infinito e do vazio...
Tão majestoso... Talvez por isso
Tão temido.

Os garotos dão-se as mãos.
Suas palmas se tocam, acanhadas, como se todo fulgor da fornicação
Não fosse tão banal o quanto fora...
Mas sim, eles se vão de mãos dadas
De roupas amassadas e faces enrubescidas
E as luzes do corredor, tão brilhantes e tão ásperas
Cegam as suas retinas em um mundo de cor e de luz.

Um mundo de cor e de luz... Tão ignorante!
Deveras generalizado e corriqueiro.
- Um mundo onde o tempo passa.
O tempo, que corre infinito.
Oh, o infinito! Tão longe quanto tudo
Tão perto quanto o nada.
Um mundo de cor e de luz... Em que o tempo se esgota, inexorável
E outros mundos vão nascendo e se desintegrando
Futilmente, silenciosamente... A morte de milagres!

A morte – Um eufemismo para o fim.
O fim de um mundo... O fim de tudo.
A matéria se decompõe.
A mente se esvai.
Os sentimentos evaporam, e o espírito...
Bem, o espírito nunca foi algo para poder acabar.
O espírito, o âmago da vida...
Apenas uma coincidência, uma fatalidade.
Filho de tudo, herdeiro do nada:
A morte é uma ilusão, assim como a vida
Como o espírito, a matéria, a mente e o sentimento.
Nada existe. Nada existe. Nada existe.
Nada é mais importante do que foder.


Lucas de F.R.Altmicks

2 comentários:

  1. Lindo!!! Um pouco árcade, um pouco Gregório de Matos.... Sonha jovem jedai, sonha.... Bjos, your poetic auntie!

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  2. Lucas, adorei! Continue, pois você tem futuro!
    Um abraço,

    Samuel.

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