12 de dezembro de 2011

Três dias para chegar até aqui



Três dias para chegar até aqui

   Só percebemos o quão vasto é o mundo após viajar por ele. Quando ao seu redor nada mais há a não ser terra e vento: uma imensa planície dourada de trigo, um céu azul e brilhante, e um pequeno café a beira da estrada... Quando à nossa vista só há isso, aí sim percebemos o quanto somos pequenos. Três dias para chegar até aqui, e ainda não descobri nada além desse fato: somos pequenos. Se isso é bom ou se isso é triste, ainda não sei.
   Sento-me a janela e peço um café à atendente. Moça bonita, a atendente. Lembrou-me você. E o trigo, seus cabelos dourados, e o céu, seus olhos cor de mar, e a imensidão, tudo de ti. O café chega e dou uma boa golada. Ele desce ardendo, saboroso, divino prazer... E eu sorrio. Quem diria que iria sorrir assim de novo, só pelo simples prazer de um café! Ou talvez tenha sido a atendente que me lembrou você, ou o céu, ou o campo de trigo, tão parecido com seus cabelos!
   Três dias para chegar aqui, e tão pouco descobri. Talvez quando morremos não vamos para o céu, mas ficamos na terra. Talvez nossos cabelos se fundam com o imenso campo de trigo dourado. Talvez nossos olhos se misturem com o céu e tornem o azul mais azul, e o belo mais belo, mas nunca abandonem o campo material terrestre. E se só eu penso assim, talvez você só tenha morrido para isso, meu bem: Para fazer meu azul mais azul, ou para dar um significado maior àquele tão simples campo. Morrestes para fazer do meu belo mais belo, e de tão belo, triste. E se morrestes e eu aqui estou, sorrindo, a me deliciar com uma simples xícara de café, a fitar e a devanear sobre o campo de trigo e o céu azul dourado, é porque no mundo não há tristeza que se esqueça, mas não há pecado que não se perdoe.
   Três dias para chegar até aqui, e tão pouco descobri. Somos pequenos demais para não sermos capazes de perdoar alguém, somos sensíveis e melodramáticos demais para sermos capazes de esquecer. E mesmo quando você era tudo para mim, e mesmo que sem você eu não seja capaz de viver, eu vivo e continuo a viajar e beber café. Pois somos pequenos demais, meu bem, para sermos alguma coisa a qual se perder. Três dias para chegar aqui, e ainda não consegui esquecer.

2 comentários:

  1. Bom texto... Conseguiu me prender até o fim, sem falar na harmonia entre as palavras... Parabéns, continue assim.

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  2. Aaahhh, muito bom esse texto. Adorei. Parabéns.

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